Têm sido muito frequentes os casos de maus-tratos para com os animais, assim como os casos de abandono, negligência, indiferença e toda a espécie de actos que conduzem a consequências de flagrante desrespeito para com a vida animal. Reportamo-nos principalmente aos mamíferos de quatro patas, nomeadamente aos vulgarmente chamados animais de companhia: os cães e os gatos. Quem teve ou tem um animal destes por companhia sabe decerto que este tipo de atrocidades cometidas ocorrem frequentemente e a ritmo diário em maior número do que seria de esperar. Infelizmente, muitos são os cães e gatos carentes que vagueiam abandonados pelas ruas à espera de um gesto de carinho, de um alimento, de um lugar quente para poderem pernoitar. E esta realidade cruel não pára de aumentar, se considerarmos os números tendencialmente crescentes de recolhas que os canis municipais fazem e dos animais que mantêm em cativeiro até chegar a hora do terrível destino que é a morte por abate. Em canis municipais do país encontram-se, não raras vezes, situações deploráveis de más condições de tratamento para com os quatro patas, seja em questões básicas como a alimentação, higiene e resguardo, pois a única coisa que têm é uma cela fria de um canil para dormir. Como se não bastasse, são muitos cães na mesma situação e sentem o que qualquer um sentiria num lugar atroz, ameaçador e terrífico. Os cães também sentem ansiedade e, nesses lugares, onde não têm carinho, nem atenção constante, pressentem que o destino não é nada bom. Sentem a problemática de ausência quando um companheiro da cela do lado parte... Sentem o isolamento e a questão premente de quando chegará a vez deles serem levados, talvez na esperança de saírem dali para poderem correr em liberdade. Mas a irritabilidade instala-se devido à incerteza que sentem, pois sabem não tornam a ver os seus companheiros que partiram e a pessoa que os leva é, não raras vezes, fria e insensível, sem gestos de carinho ou piedade para com eles. Pressentem o perigo pelo faro, pelo tacto, pela ausência de afecto. Recebem visitas de vez em quando e no pensamento canino qualquer humano que seja diferente do habitual é um sinal de esperança e aviso em simultâneo. Pretendem dizer: "Tira-me daqui, leva-me embora, liberta-me!" E tantas vezes essa esperança se torna vã quando não vão com essa pessoa que está de passagem. Por vezes essa pessoa escolheu um cachorro bebé, ou então gostou mais de um cão aproximado dos de raça, ao invés deste amigo rafeiro, ou então ainda vai-se embora sem libertar nenhum, pois de tão maltratados que estão prefere comprar um animal que seja aparentemente mais saudável... E tantas vezes ele e os outros companheiros ladram sem parar, sendo-lhes apenas atirados os pratos de ração que, muitas vezes, não comem porque estão demasiado tristes para comer. Tal como as pessoas, os animais também têm sentimentos. Sentem o vazio, sentem quando alguém os tratou mal ou bem, sentem-se agradecidos quando alguém faz alguma coisa por eles e vingam-se quando são ignorados e desprezados... Há pessoas a trabalhar nesses canis para abate que até são sensíveis e se esforçam por dar condições o mais dignas possíveis aos animais até à chegada da sua hora. Zelam pelo seu agasalho, fazem-lhe umas festas de mimo com piedade, acompanham-nos até ao seu momento final, mas não podem mudar o seu destino mais certo e imposto ali. São impotentes para lutar contra uma lei que vigora e que a muito custo algum dia será abolida que é a lei de abate em Portugal. O canil municipal é o inimigo público número um do cão. É nele que a ameaça da morte paira no ar e é de vigência permanente, a não ser que alguém o salve e o adopte. Infelizmente são muito poucas as pessoas que conhecem esta triste realidade e que não lhes chega a informação necessária para saber como vivem os cães naquelas situações e quantos cães chega a ter um canil municipal para adoptar... Mas a maior parte deles não revela quantos animais tem em sua posse, qual o estado deles, quantos foram adoptados. Têm várias dezenas de animais e quanto maiores forem as instalações desse canil municipal, mais são os que mantêm em cativeiro. E os cães aparecem tristes, abatidos, sofrem tantas vezes de emagrecimento súbito, de irritabilidade constante, de ansiedade extrema e até, não raras vezes, de fobias... Nestes casos, por vezes, acontece o pior. Os cães ficam agressivos, porque não têm outra solução senão lutar contra o mundo cruel. É por isso que abandonar um animal traz consequências horríveis para o próprio animal, o homem e a sociedade em geral. Enquanto não se travarem os abandonos em massa e não se punirem eficazmente as pessoas que os abandonam e maltratam, a realidade nos canis municipais não vai acabar. E enquanto a lei do abate não for alterada ou abolida o destino de cães em canis não se altera. É preciso mudar mentalidades, denunciar actos de violência e de indiferença para com os próprios animais, pois isso viola claramente os Direitos Universais do Animal, proclamados pela UNESCO! Mas enquanto as próprias instituições não mudarem as suas atitudes, os particulares, ao verem os maus exemplos, acham que não fazem mal nenhum em deixar um animal numa praia a deambular só porque já não se acham com vontade de o manter. Acham que não fazem mal nenhum se o deixarem num poste amarrado só porque vão só ali ao café e já voltam, e tantos outros casos que se poderiam descrever que revelam a negligência das pessoas para com os animais em Portugal... E porque os animais também têm sentimentos, nunca abandones o teu animal de estimação! E quando pensares adoptar um cão ou gato, escolhe um que esteja num canil municipal. Ele ser-te-á grato o resto da vida!
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